Certo dia acorda numa cabana. Aflito, olha para a estrutura deste edifício e parece-lhe que está no interior de uma árvore. As paredes são de madeira, parecendo viva. Ao seu lado tem uma espécie de mesa de cabeceira que se estende da parede. Em cima dela, tem um copo, um pouco diferente do que está habituado, não é de vidro, papel ou cartão, parece ser feito de algo vegetal, até comestível. Decide agarrá-lo, cheirá-lo. No seu interior, tem um líquido verde, fresco e bastante agradável ao cheiro. Dá um pequeno gole, e pensa, isto é delicioso. Bebe-o todo. Percebe que o copo onde colocou os lábios também tem sabor. Com os dentes trinca o copo. E pensa para si que é delicioso. De imediato surge-lhe semelhanças com chocolate negro e decide comê-lo. Com um pequeno bocado de chocolate nos seus dedos, diz em voz alta:
– O que é isto? Estarei louco. Acabei de comer um copo?
Confuso decide levantar-se da cama. Entra num espaço amplo e aberto cheio de luz. Este espaço é idêntico a qualquer divisão moderna, com cozinha e sala, sem qualquer divisão. Tudo é muito futurístico. Mas alguns detalhes saltam-lhe à vista. Vê que a maioria da mobília, cadeiras, mesas, prateleiras, sofás, parecem surgir da cabana e que tudo isto está construído em madeira, ou pelo menos, de algum material muito idêntico à madeira.
De repente, ouve vozes a aproximarem-se da entrada da cabana e à medida que estas vozes se alteiam vai ficando assustado.
Subitamente, vê os dedos de uma mão agarrar numa espécie de cortina acastanhada, que parece ser feita de cortiça. A cortina é afastada por essa mão e entram dois jovens a conversar alegremente. Reparam em si e com um sorriso rasgado cumprimentam-no.
– Está tudo bem consigo? Precisa de alguma coisa? – Indagam os dois jovens.
Como é obvio, o seu ar perplexo dá a entender que não está bem.
Espontaneamente, pergunta:
– Onde estou? O que faço aqui? Quem são vocês?
Os dois jovens vendo-o consternado convidam-no a sair da cabana e a conhecer o lugar onde está.
Ao sair da cabana tudo é diferente do que estava acostumado. O lugar está embrulhado num verde intenso. As cabanas e os edifícios saem do solo, com perfeitos troncos que se encruzilham e adquirem a forma de uma estrutura bem definida. Claramente, percebe que é modificado de acordo com o tipo de dimensão e forma requerida.
Dirige o seu olhar para um pátio amplo, onde observa crianças a brincar e a correr alegremente. Ao caminhar vê que os jovens adolescentes estão reunidos em pequenos grupos e ao examiná-los, cuidadosamente, percebe que aprendem diferentes ofícios. Uns tocam, cantam e dançam, outros constroem modelos de edifícios, pontes e naves espaciais e outros cozinham, pintam, dizem poesia e contorcem-se.
Fica abismado com a alegria e a liberdade das pessoas que convivem naquele espaço. Todos parecem extremamente dedicados e felizes.
É claramente um lugar diferente, novo. Nada se parece com os sítios que conhecia.
Por momentos, depois de ter absorvido tudo aquilo, fita os dois jovens e, de imediato, pergunta:
– Onde estou, quem são vocês?
Fica curioso com aquilo tudo e percebe que já não está no mesmo local onde adormeceu pela última vez.
Diz aos dois jovens que o mundo onde vivia não era assim. Os edifícios eram de betão, as estradas de alcatrão, havia imenso ruído e lixo, as pessoas não pareciam tão felizes.
Os dois jovens convidam-no até um lugar sossegado, perfumado e de cores diversas. Pedem-lhe para se sentar num dos bancos feitos exatamente do mesmo material que as cabanas.
Repentinamente, sem deixar os dois jovens falar, pergunta:
– O que aconteceu ao mundo?
Os dois jovens, desconcertados, dizem:
– Realmente esse mundo que disse há muito que não existe. Só o conhecemos dos livros de história.
Perplexo, pergunta:
– Livros de história? O que aconteceu? Realmente o mundo que eu conhecia não era de algum modo o mais sustentável e parecia que a qualquer momento poderia acontecer uma desgraça. Mas tudo desapareceu? Como assim?
Os dois jovens ajeitam a sua postura e, calmamente, explicam:
– A humanidade da sua época começou a trabalhar um pouco tarde no desenvolvimento sustentável. Apesar desta já estar sensível ao problema que tinha em mãos não respeitou a tempo o alerta do Relatório de Brundtland, elaborado pela Comissão Mundial sobre o Ambiente e Desenvolvimento e dirigido pela ex-primeira-ministra norueguesa Gro Harlem Brundtland, em 1987. Nesse relatório já se alertava para as consequências ambientais negativas do desenvolvimento económico e da globalização e oferecia soluções para os problemas da industrialização e do crescimento populacional. Foi nesse relatório que surgiu o conceito de sustentabilidade, definida como a capacidade de satisfazer as necessidades das pessoas no presente sem comprometer a capacidade das gerações futurais satisfazerem as suas próprias necessidades. Como acho que já reparou, na sua altura, apesar de se terem preocupado com o futuro da humanidade, não foi o suficiente. No entanto, nem tudo foi mau. Aprendemos convosco. As dimensões da sustentabilidade em que vocês se apoiavam, ambiente, social e economia, ainda continuamos a seguir. Aliás, isso foi muito inteligente da vossa parte. Claro, que o mundo ainda não estava preparado para uma mudança repentina. Vocês ainda dependiam dos avanços tecnológicos, que já eram muito engenhosos, mas não chegavam para o problema que tinham em mãos. Conseguiram deixar de depender exclusivamente dos combustíveis fósseis, reduziram a pobreza nos países desenvolvidos, entre muitas outras coisas. Mas não chegou. Já iam com pouco tempo para salvar toda a humanidade. Contudo, muitos dos vossos conhecimentos chegaram até nós e, atualmente, ainda são aplicados em qualquer setor, estrutura, classe, etc.
Depois dos dois jovens terem explicado algumas das razões do mundo estar tão diferente, apontam para a sua camisola e dizem:
– Reparamos que tem estampado na sua camisola “Geonatour”. Que engraçado, esse nome sobreviveu durante tanto tempo? Trabalhava lá? – Perguntaram os dois jovens.
Afirma que sim. Os jovens sorridentes olham um para o outro e novamente para si e dizem:
– Vocês obtiveram a certificação sustentável by Biosphere, não foi? – Afirma que sim. – Que prestígio. A Biosphere era das maiores comunidades no mundo inteiro. Era um autêntico acelerador de sustentabilidade em destinos e empresas. Seguiam objetivos específicos, identificáveis e mensuráveis que respondiam aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Objetivos esses que ainda continuamos a aplicar na nossa comunidade, desenhando muitos dos nossos modelos de sustentabilidade com base nos Planos de Ação da Biosphere. Infelizmente, não chegou, porque o mundo inteiro não se preparou a tempo para a catástrofe que viria.
Espantado pergunta:
– Catástrofe? Aconteceu uma catástrofe global?
Mas, rapidamente, surge-lhe outro pensamento e muito preocupado, diz:
– C-c-coomo cheguei aqui?
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